Saite da Vida

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domingo, 8 de agosto de 2010

Os Vampiros da Balada - Álcool

Encontrei Elisa na fila do supermercado. Esta moça trabalhou muitos anos para uma antiga amiga. Sempre foi grande companheira de trabalho de tal amiga. Veio para esta casa aos quinze anos de idade. Alí aprendeu muitas coisas, acompanhou as crianças, compartilhou a viuvez da amiga, trabalhou mais alguns anos. Casou-se a primeira vez, sem filhos deixou o marido bandido em São Paulo. O segundo casamento foi com um rapaz, também "psicopata", destes que levam a melhor. Com este nasceram duas filhas. Foi embora para viver com uma mulher "rica" e mais velha. Apareceu outro, dez anos mais moço, também de caráter duvidoso. A idéia que se passava era que Elisa era uma pobre coitada e que os homens não eram bons. Mas o tempo passou também para suas filhas que cresceram, tornando-se mocinhas. A casa de Elisa nos finais de
semana estava sempre cheia de amigos que bebiam e fumavam muito. Latinhas de cerveja espalhadas na frente, certa vez contei vinte e uma. Na segunda feira, chegava um recado para a segunda patroa, porque com a primeira, não deu mais certo sendo substituída pela irmã, que vai muito bem. " Olha fulana, hoje acordei doente, vou ao médico". Neste dia faltavam à escola as filhas também, e ainda no outro. A filha mais velha, chegou à quinta série aos quatorze anos, apresentando sérios problemas de comportamento junto da irmã que lhe seguia os passos. Hoje estava na fila do supermercado, Eliza com duas irmãs, cunhada, cunhado e sobrinhas. É uma bonita família em termos de união, vão comemorar o dia dos pais, que já se foi, mas a mãe ainda está aí. Não fosse já estar embriagada, cheirando a álcool amanhecido e forte cheiro de cigarro. Aquele jeito espalhafatoso, olhos congestionados, falando alto, chamando a atenção das pessoas, enquanto espera na fila. Foi muito gentil comigo, ficitando-me por minha recuperação. Nada tenho contra ela. Apenas ela estava alterada, sob o efeito da droga. O álcool é assim uma droga maldita. A
criança de doze anos toma seu primeiro pileque, porque já faz doze anos que convive com ele. Alguns já se embriagam aos cinco anos, pois sou testemunha de presenciar crianças bebendo na torneira do barril, enquanto os pais e amigos já iam alto na embriagues. Por volta dos trinta anos, já é um alcoólatra consolidado, aos quarenta, necessitando de tratamento, internação e desintoxicação. Neste mundo de hoje, aqueles que têm a sorte de chegarem com vida nesta idade, porque muitos já se foram, levando um ou uns consigo. A pessoas começam com as trapalhadas na noite, briga com amigos, chegando em casa de gatinho, perdendo o celular, o respeito, os amigos e empregos... Alguns rapazes vítimas do "boa noite cinderela", as moças têm um pouco mais de proteção, mas estão sujeitas a qualquer tipo de armadilha. Interessante que acabam sobrando aquelas amizades que vêm às vezes da infância, mas não as melhores, mas aquelas que o álcool escolheu. São vítimas de uma rede de amigos invisíveis que marcam este grupo com uma tatuagem, de forma que outros amigos invisíveis olhando aquela marca, respeitam o espaço, como uma gangue aqui da terra. Então se aproximam nos momentos de libação, como a aspirar a embriagues, revivendo a sensação de estar alcoolizado, sentindo o prazer novamente. Estas bonitas mulheres e rapazes, de todas os níveis sociais, são vítimas de uma teia invisível, a lhes chamar para a balada, o buteco, porque seus "amiguinhos" do outro plano, precisam vampirizar, aspirar ilibando o perfume e líquido sinistro. Você é apenas a latinha de cerveja, ou o drink para eles. Estão te usando. Acorda pra vida!
Elisa não percebeu e talvez ainda não saiba que é uma alcoólatra num nível adiantado. O que a salva é a a necessidade de trabalhar para pagar o aluguel, e buscar
alimento para a família. Era uma moça equilibrada no início, mas o hábito da bebida durante os sábados e domingos e mais algumas vezes na semana foi-lhe embriagando a auto-percepção, rebaixando-lhe a consciência. Este mal social, protegido pela política econômica, vai matando emocionalmente os indivíduos. Que pena!
Nota: Os personagens, locais ficam a critério do autor.

Um comentário:

António Serrano disse...

Um texto bem duro, realista, verdadeiro. O álcool, que muitos interesses económicos teimam em não meter no grupo das drogas puras e duras, é uma verdadeira calamidade, também entre nós. Ver Crianças embriagadas, adolescentes enfraquecidos e jovens sem esperança nem razões de viver e p'ra viver é o resultado da irresponsabilidade dos adultos e da desagregação das famílias, cada vez mais desprotegidas nas políticas sociais, para não dizer perseguidas mesmo.

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