Saite da Vida

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domingo, 1 de agosto de 2010

Vovô Augusto e Geração de Netos

Vovô Augusto


Hoje recebi da Cidinha um desenho feito pelo "Neto", sobrinho da tia Cecília, desenhado a caneta. Olhando a data, nesta época estudava em Uberaba, cursando a quinta série do primário. Fase preparatória para entrar para o ginásio. Neste período convivi muito com minhas primas Eliana, Teresinha e Cida. Também os primos Edson e Ênio. São filhos do tio Hélio irmão do meu pai.

Hoje minhas filhas me convidaram para ir ao Shopping Iguatemy em Campinas para almoçar e assistir um filme com elas. Preferi ficar em casa para escrever. Convidei o Dario para fazer companhia a elas, que passou por aqui. Teria ido, mas achei ótimo que ele tenha passado, assim fico escrevendo, atividade que me dá muito prazer. É um ato aparentemente solitário, mas energeticamento eu me uno aos meus ancestrais em sentimento reflexivo. Tenho saudade deste avô alegre e brincalhão. Gostava de vê-lo brincando com os meus priminhos menores, com quem era muito carinhoso. Chamava a a "Dei" filha da tia Elizena de Mixirica. Na época não entendia bem porque, mas hoje penso em duas alternativas. Nenem regurgita, e faz xixi. As duas atividades redundam num cheiro azedinho. Outra é a cor amarelada da mixirica, a Dei, era loirinha. Cada um pense o que quiser, mas o importante é ressaltar a característica bem humorada deste querido avô. Sobre família as impressões são subjetivas, cada núcleo familiar tem um conceito diferenciado, pelas relações pessoais com os avós, sogro ou sogra. O filho tem sempre uma esposa, ou a filha um marido. Aí entram os inter-relacionamentos com as partes gerando formas diferente de ver a mesma pessoa. Todos os aspectos guardam suas verdades, do ponto de vista do observador. Pude observar esses valores de juízo na convivência com a parentela, e gosto da divergência de opiniões; existe sempre um centro onde a verdade é igual para todos. O nosso avô não era um intelectual, mas era um homem de bem, que cuidava dos filhos e filhas. Estes tinham muita admiração e respeito por ele. Ele se preocupava com cada filho particularmente, dando a cada um devido respaldo necessário. A um filho sua preocupação era com a habilidade para negócios, outro a limitação física, outro ainda a falta de juízo com as mulheres. Diga-se de passagem que meu pai teve quatro mulheres oficiais e oito filhos conhecidos e registrados. Meu pai está do meu lado me vendo escrever. A minha intenção não é difamá-lo, ele sabe disso. Era a sua forma de viver e pensar. Adorava a vida. Era inteligente, trabalhador, provedor, responsável com a educação dos filhos. Nada nos faltou, aliás recebemos muito e de tudo que era necessário para nossa educação moral e religiosa. Delegou esta reponsabilidade aos colégios e freiras. Parabéns a ele, sou muito agradecida, não sei o que seria de mim sem tal oportunidade. Foi onde aprendi a pensar, refletir, me reorganizar e redirecionar, me reeducar e buscar orientação para minha vida, minhas vidas. E esta sabedoria ele adquiriu de quem? De meu avõ, que lhe deu a mesma oportunidade. também estudou em colégio de padres, mas fugiu do colégio dizem. Aproveitamos de forma diferente. Embora tenhamos vivido em décadas variadas, o eixo educativo foi o mesmo. Vejo a mesma estrutura em todos os meus primos. Não se tem notícia de nenhuma alma perdida. Todos tocam suas vidas, com suas famílias estruturadas, esposas e maridos. As minhas tias, Elizena, Dagmar e Elina, foram mulheres guerreiras, acompanhando seus maridos pelo sertão afora, seguindo-lhes como companheiras na ambição exagerada de seus homens. Seus maridos, vendendo-lhes as terras recebidas em vida, foi assim que ele fez. Doou aos casais, que venderam sua gleba recebida no triângulo mineiro, que valia muito, comprando três, quatro vezes mais em Mato Grosso. As tias, deixavam suas fazendas lindas, organizadas, com casas bem estruturadas, indo morar em florestas, debaixo de tendas improvisadas, levantando as quatro horas da manhã, cozinhando para quarenta peões, enfrentando frio, chuva, borrachudos e o inquietante e dolorido reumatismo que triturava a saúde das mulheres. Os filhos com certeza estavam sob os cuidados de freiras no período escolar, e os menores em companhia das mães. O mérito destas santas mulheres se deve também à minha avó Batista. Tanto que vejo algumas de minhas irmãs tentando repetir de forma quase patológica este feito. Já não é necessário passar por este aprendizado, mas ficou uma marca no nosso imaginário que algumas não souberam e não estão sabendo superar. É uma repetição circular dos comportamentos idos, adequados para aquela época, não para hoje. Existe então essa dificuldade de adequar as emoções e condutas, trazendos-as para a realidade presente.

Mas a geração de netos do vovô Augusto segue lutando com a vida, vivendo num mundo urbano, com exigências urbanas, trabalhos urbanos, rendas urbanas. Resta apenas a tia Elizena, presente sempre em nossas vidas, carinhosa e atenta. Lembro-me dela no enterro de meu pai, puxando o terço, com aquela voz grave, uma melodia sonora e compassada, lembrando os mantras hindus, onde uma pessoa fala uma frase, repetida pelos demais. Fiquei emocionada por viver este momento solene, parecendo figurante e participante de algum filme em "algum lugar do passado". Ela ainda vive na fazenda junto a uma de suas filhas, a Dei. Tem também um apartamento em Uberaba onde passa alguns dias.

Cidinha, obrigada pelo presente que enviou-me pelo correio eletrônico. Os tempos hoje são outros e a comunicação é imediata. Nem sei se você sabe que tenho este blog, mas hoje reencaminharei para você querida priminha. Você era a mais pequena, o dodói de toda sua família, seus irmãos e pais. Sabe que na minha precoce orfandade, invejava-lhes o cuidado e amor de sua mãe e me encantava com o carinho de suas irmãs para consigo. Também eu recebia parcela de carinho da Eliana e Terezinha, talvez um ou dois anos mais velhas que eu, mas para uma garotinha de dez anos , quem tem doze pode se considerada muito mais velha. Eu era acolhida por suas família e sou-lhes muito grata. Beijos e Gratidão a todas vocês. Obrigada pela foto do Vovô que rendeu estas memórias.

Para vocês primas, como lembrança de nossas férias lá na fazenda São Mateus, em Areias, uma lembrança da música - Perfídia - que mais me lembro ver vocês cantarem e ouvir.

Beijos, muitos beijos...saudades!



"Lena minha cara! veja só, não imaginei que essa foto traria tantas lembranças.....que bom que vc com sua memória irretocável a registrou aqui! Assim, a gente pega uma carona no tempo e mata um pouco as saudades! Eu sabia sim do seu blog e já o visitei algumas vezes, não muito confesso, visto a correria do dia a dia....mas por favor, não pare! aqui a gente se encontra, no hoje e no passado, através de você! Não pare! Continue! É muito bom, a gente se sente mais próximas. Admiro muito você, também gosto de escrever.....escrevo.....mas ainda deixo tudo "escondidinho" rsrs..... são palavras soltas....desabafos....relatos.....desordenados! mas quem sabe um dia....chego lá, tento "imitiar" você e....transformo tudo isso em alguma coisa....né? te amo e te admiro muito! um beijo no seu coração, viu? saudades!Thê e Eliana já estão dormindo mas me encarrego de enviar a vc o beijo delas tb!" Cidinha Nunes

Tentei postar essa mensagem lá no site mas não consegui......então mando por aqui mesmo! bjs.


Um comentário:

António Serrano disse...

Que texto! Que músicas!
Adorei!
Bem haja!!!

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