Saite da Vida

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domingo, 29 de agosto de 2010

Altas Horas, Vida Inteligente na Madrugada


Comemoração do centenário de Adoniram Barbosa no dia 29/08/2010 no Parque da Indepência no Ipiranga. Valinhos 06/08/1910, São Paulo 23/11/1982.

Após a novela Passione, fui dormir. Querendo conferir as portas da casa e se os filhos já estavam deitados, minha televisão do quarto já estava apresentando o programa do Serginho Groisman. Pelas chamadas de várias fontes para a homenagem a Adoniran Barbosa, no Parque Independência, no Ipiranga, acordei bem acordada. Peguei meu caderno de anotações e caneta me pondo em frente a televisão. Como sempre sem nenhuma pretensão de escrever bem, apenas tendo o prazer de escrever coisas que gosto, coloco aqui minhas anotações. No parque havia uma multidão, que até terminar o show não parava de chegar gente. Serginho ativava a população com as Olas, que davam um efeito belíssimo. Não dava para saber quem era a atração, se a platéia ou o palco. Na platéia haviam crianças dependuradas no pescoço dos pais. Casais dançando, muita alegria estampadas nos rostos. Adoniran de origem italiana, foi descrito pela filha Maria Helena, como alma generosa. Não aceitou trabalhar nos vários empregos que a família lhe arrumava, persistindo no sonho de ser um músico sambista. Além da música tinha um passatempo, que era fazer brinquedinhos na sua oficina, fundo de quintal. Tornou-se patrimônio nacional e internacional. Na Itália, na cidade de onde veio sua família, na região de Vêneto, existe hoje uma ponte num rio importante da região com o seu nome. Frequentava um restaurante, pedindo sempre spaguete ao sugo e ao dente. Falava pouco e dizia que lá ia para comer, não para conversar. Sempre ao lado de Matilde, sua esposa. Dominguinhos disse que Adoniram era um comentarista e observador da vida urbana. "Iracema", música criada, por uma notícia de jornal. é linda, e não cansei de ouvi-la e cantá-la, interpretada por Emanuele Araújo, junto com o grupo Moinho. Quando Da Vinci e eu éramos um casal jovem, tínhamos uma roda de amigos, e às sextas-feiras, nos reuníamos em casa ou em casa de alguém, ou na casa de seus pais em Frutal. Era a época do violão e cerveja até a madrugada. Da Vinci nesta época, músico amador, adorava o repertório aqui apresentado de Adoniran. "Iracema, eu sempre dizia, cuidado ao atravessar a rua" ele cantava e ria, e eu me perguntava: Quem era Iracema em sua vida? Era apenas uma notícia de jornal. A seguinte com o grupo Jeito Moleque "Eu sou a lâmpada e as muié a mariposa, que fica dando volta em volta de mim, só pra se esquentar" Este humor é muito divertido e safadinho. A mulherada ria e adorava a imagem da música. Zélia Dunkan, linda e maravilhosa, encantou-se com a platéia que se estendia no parque, comentando que ele eternizou o gosto pelo cotidiano, cantou o humor e amor não correspondido em tom menor em "Apaga o Fogo Mané". "Inês saiu dizendo que ia comprar o pavio, acendi o fogo pra esperar Inês", mas Inês não voltou." Causando-lhe uma grande decepção, sempre a mesma lamúria masculina. Com certeza era amigo dos homens. Gabriel, O Pensador e Negra Li cantaram 'Torresmo a Milanesa". Parece-me que esta composição nasceu no balcão de um bar, sambinha que poderia ser o hino dos bóias frias, "o que você trouxe na marmita"? "Tá chegando a hora João. É dureza João. Arroz com feijão, ovo frito e torresmo a milanesa (...) o mestre hoje falou, que hoje não tem vale não, ele se esqueceu que lá em casa, não sou só eu". Esta música retrata a negligência do patrão e o sentimento de desamparo de um empregado, isto acontece a milhões de brasileiros. Ana Canã, conheceu Adoniram em companhia de Eliz Legina. Trouxe à memória que Adoniram foi censurado na ditadura militar. Era um cronista da cidade. Cantou o samba "Prova de Carinho" cheia de cadência e suavidade. "Fiz uma música pra ela, prova de carinho pois meu cavaquinho não pode mais gemer". Mais uma vez carinho e desapontameno. Teresa Cristina disse que a música de Adoniram é a história do povo de São Paulo, mas que retrata todo o povo brasileiro. Em "Abrigo de Vagabundo", o terreno "10 de frente/10 de fundo (...) a minha maloca, a mais linda que eu já vi, hoje está legalizada, ninguém pode demolir (...) ofereço aos vagabundos que não tem onde dormir". Sua música cumpriu a função social de denunciar o descaso do poder público. Que modo singelo de fazer a sua reclamação ao mesmo tempo colocando na boca e na consciência do povo o seu penar, através da musicalidade. Centenário bem comemorado, pois este cidadão colocou luz na realidade intimista e social da vida urbana. Bem que o Lula e sua equipe poderiam ouvir com o coração o samba de Adoniram. O filho de Lenine cantou com muito humor e seriedade o ocaso de uma memória com Casuarina. "É uma brasa mora, eu também um dia fui uma brasa e acendi muita lenha no fogão (...) e hoje o que sou, quem sabe é o meu violão. Mas lembro que o rádio que hoje toca iê iê iê o dia inteiro, tocava saudosa maloca. Eu gosto destes meninos do tal iê iê iê". Encerrando o show com Demônios da Garoa, cantando "Samba Italiano". Que humor fino. Que classe tinha o compositor! Que formação de caráter e conhecimento sobre sua cultura de berço, sua terra, a Itália. Encerrando o show como era de se esperar com o" Trem das Onze". O grupo aual de Demônios da Garoa conta com três gerações. O Serginho estava enternecedor. Gostei de viajar pelas décadas com Adoniran.