(título do livro de Regina Carvalho)-
Deixei a postagem com este nome por se tratar da dor que a filósofa se refere.
"A pergunta do livro que terei que responder através deste estudo é justamente por que eu não compro a maça?
"Porque as pessoas permanecem querendo e desejando sempre, sem jamais comprar a maçã?
..............................................................................................................
Hoje estou cansada, triste e preocupada porque escorrego reiteradamente no vício da escravidão e da indiferença para comigo mesma , vida após vida. Na existência presente mergulhei na postura equivocada do status social, e de crenças ultrapassadas, e sigo a humanidade, repetindo padrões há milênios, tentando me ajustar à lente do outro.
Um casamento, que já em 1987, a minha psicanalista dizia que eu estava carregando o cadáver, que imagem forte! Na época nem entendi muito bem, mas já causou impacto. Hoje nem isso causa porque é uma certeza.
Insistimos, mas não deu certo, ainda não desistimos de verdade, pelo menos oficialmente. Somos muito diferentes, nenhum é pior ou melhor, apenas pessoas diferentes. Pelo contrário, convivo, ou melhor dizendo convivi, por mais de trinta anos debaixo do mesmo teto, com um homem responsável com a vida, que herdou ética do pai, que tem as qualidades e defeitos do homem brasileiro, que vive também igual a humanidade , sem muitos destaques individuais, fazendo o mesmo há milênios, sem nenhuma criatividade, como eu. Será a Normose a onda gigante do século, que abocanha com sua crista, levando toda a humanidade rastejante no chão do conformismo e da indiferença? Deixando de fora apenas aqueles poucos que alçaram o vôo da aventura de ter coragem de experimentar viver a própria vida, usando a própria lente?
Sou capaz de afirmar que ele é melhor que a maioria, e a balança ainda está em equilíbrio, quer dizer estamos algemados por conveniências. Está faltando coragem para um de nós dar o ponta pé, isto significa alguém abrir mão de bens materiais, que é o que nos aprisiona.
Sinto-me desmotivada, cansada e querendo encaminhar os filhos para suas vidas profissionais, torná-los independentes, porque quando isso acontecer, gostaria de ter uma folga, poder viajar um pouco, não me preocupar com parceiro, não precisar ceder, ou fazer o que o outro quer. Quando vejo um amigo que seja dizendo, "não o meu santo não bate com o dele", me sinto mal, como se estivesse em domínio de alguém, mesmo amigo.
Ontem estava dizendo para meu filho, que no próximo final de ano não quero estar preocupada com a casa (comercial ou particular) dele, quero escolher o local onde vou passar o final do ano, me sentindo livre. Ele olhou bem sério e surpreso para mim e perguntou, é sério que você pensa mesmo assim? Estou presa numa armadilha criada por mim mesma, ainda achando que devemos ajudar os filhos se estruturarem financeiramente, emocionalmente. Melhor, acho mesmo que temos esse dever, mas não ficar arrumando mais pretextos para não sair da armadilha. Quanto ao encaminhamento deles diria que está encaminhado, vamos dando o peixe, enquanto se aprende pescar, mas não a peixada. E enquanto a gente vai dando linha eles vão rodando o carretel.
Tenho a amiga Regina Carvalho que me presenteou com seu livro Complexo de Dor Social, ainda não li o livro, folheei-o, mas hoje estou mais uma vez me questionando porque me subjugo de forma suicida ao sistema, um câncer não é uma doencinha é o resultado da minha indecisão. Mudar posturas segundo ela está ligado às perdas, então perder o que nunca tive, por exemplo a felicidade? Porque me iludi tanto, quando sentia a verdade nos meus ossos que desmantelava, até que desmantelou de vez em 2006? Estou sendo burra e teimosa desde sempre, quando me casei era nova e inexperiente, lá pelos trinta e sete comecei tomando consciência, pelos cinqüenta já era macaca velha, e ainda estou nessa? Acorda Maria Helena, deixe a felicidade te levar. Talvez por isso tenha me identificado com as músicas da Tereza Cristina ontem no Jô. Foi esta postagem anterior que me trouxe inquietação, as músicas dela me tiraram o sono, porque alguma verdade estava e está me cutucando.
Também um email que recebi da querida amiga autora do livro Complexo da Dor Social, diz que "não existem mistérios na vivência da felicidade ou do gozo pela vida, apenas o desejo em sê-lo. Uma vez que se dê o comando ao cérebro, todos os sentidos entram em ação, e aí, minha querida amiga, dane-se o mundo, pois tudo que se vê, se ouve e se sente é o desejo de viver em plenitude e isto não significa não ser uma pessoa responsável, amorosa e dedicada ou uma pessoa que abra mão de tudo material ou que possa ampará-la e muito menos faz dela uma egoista e indiferente aos demais. Ao contrário, pois aumenta o grau de consciência e de respeito ao tudo do todo no qual ela está inserida sem, no entanto, fazer de sua vida uma escravidão existencial".
Quando poderei comprar a maçã e comê-la? Espero que breve.
Blog da Regina Carvalho: