Não pode mais meu coração
Viver assim dilacerado
Escravizado a uma ilusão
Que é só desilusão
Como um luar desesperado
A derramar melancolia em mim
Poesia em mim
E semeia a emoção
Que chora do meu coração
Ademar e Dona Juraci 1/01/2007 |
Regina e netos |
Durante todo o ano de 2005 sentia a minha saúde alterada. Dores de cabeça parecidas com enxaqueca, mas com sintomas na nuca do lado esquerdo, apresentando alterações de pressão, o que assinalava mudanças drásticas na minha saúde, mas que não dei atenção, obcecada que estava com o curso. Tinha retornado à faculdade no terceiro ano, após quatro anos de matrícula trancada. Pensava comigo: desta vez concluo o curso. E na teimosia, não encontrei tempo para pesquisar as causas das minhas dores. Cheguei em 2006, já aumentando a quantidade de remédios para dores de cabeça. De um comprimido por mês, tornou-se um por semana, indo de um por dia, chegando durante todo o ano a consumir dois, três até sete ao dia. As dores de localizadas, passaram a salpicar em todo o crânio, aqui e ali e pelos ossos chatos do meu corpo, quadris, omoplatas etc. Eram dores como agulhadas. Em outubro comentei na sala de aula que naquela noite estiquei o braço acima de minha cabeça para apertar o interruptor e fiquei com a impressão de ter quebrado a costela, mas brincando, porque imagina, não se quebra um osso desta maneira. Atendia uma paciente no CPA, Centro de Psicologia Aplicada que se recuperava de um câncer.
Eu e Viramundo (dezembro 2006) |
Eu a olhava me sentindo aindamais doente que ela, e pensava será que tenho câncer também? Cheguei a procurar nos corredores da faculdade um neuropsiquiatra, pensando que estivesse com depressão; numa de suas aulas comentou de uma paciente sua portuguesa, uma senhora de setenta anos, empreendedora, dinâmica, que passou por um momento de desânimo, perdendo as energias, ficando apática, sendo por ele tratada com antidepressivos, se recuperanado voltando às atividades. Sarou. Pensei comigo pode ser o mesmo. Cheguei a tomar três comprimidos, durante três dias seguidos, porque inconscientemente queria dormir, e o remédio era para despertar.
Quimioterapia no OCC |
Abandonei-o pois não obtive um resultado satisfatório. Em novembro, certo dia, acordei cedinho olhei-me no espelho, e o meu rosto estava cinza cadavérico mesmo. Fiquei assustada por alguns minutos, mas me maquiei, fiquei com a face bem vermelha, aquele dia até exagerei na maquiagem, coloquei roupas vermelhas, queria ter sangue nas veias correndo pelo corpo, pelo rosto, por tudo e espantar a cor de mortalha que vi em mim. Já estava sofrendo de insuficiência respiratória. As minhas unhas apresentavam-se quebradiças, cheias de nervuras e linhas convexas nas extremidades das unhas, bem branquinhas, outra vermelhinha, e mais alguma degrade, em seqüência. As colegas me olhavam e diziam, Maria Helena, porque você não procura um médico? Ao que dizia sempre: No dia primeiro de dezembro, após o ano letivo vou fazer isso. Estava planejando matematicamente, que até março teria me recuperado. Imagina que tivesse sofrendo do coração, pois minha madrasta tinha apresentado após um stress problemas nas coronárias tendo que trocar quatro válvulas. Ela que quase morreu ficou bem, eu ficaria também. Em março estaria novinha em folha para terminar o quinto ano.
Colegas de grupo do quarto ano |
Passei a voltar para para casa (22 Kms) pra descansar um pouco, ao meio dia. No começo ficava em casa até as 14 hs, e no final, eram 17 hs e eu ainda permanecia em casa, sem vontade de levantar-me e voltar aos estágios. Luke, ficava preocupado, às vezes perguntava-me, você está se sentindo bem mãe? estou com a cabeça doendo, mas os remédios não me curam mais delas. Certo dia levou-me ao consultório do pai, medindo a pressão, estava bem alta.
Nós, visitas de cunhados, irmãos e sobrinhos em maio de 2008 |
Mas a monografia precisava ser concluída, não tinha como parar... No dia quinze de novembro, sexta feira, seis horas da tarde, comprava lanche para deixar para a família, e prontinha para voltar para a faculdade e fazer uma prova de psicopatologia, torci o pé, mas não ficou machucado, em compensação fraturei a coluna, depois descobrimos tratar-se de fratura patológica. Não fui fazer a prova, e sábado de madrugada fui hospitalizada, com insuficiência renal e respiratória. Uma semana após com todos os exames prontos, já tinha o diagnóstico: Mielloma Múltiplo.
Olivier no mês de Dezembro cozinhou para toda a família e visitas junto da Elza e Juliana, nos finais de semana. Ju é a minha norinha. |
Pensei que ele tinha razão, e no dia seguinte pedi à Connie que me trouxesse o batom vermelho pois para mim batons vermelhos sempre foram um santo remédio para levantar os astral, sempre me curou de todos os males e crises. Dizem até que em épocas de crise em um país o consumo deles aumenta. Se você levantou-se mal, desanimada, use batom e saia pra ver se tudo não melhora. Você fica boa rapidinho.
Malu veio visitar a Dona Jurema em janeiro de 2007 |
Em meio à minha palidez e olheiras, o batom chamava ao ânimo e animava a quem me visitava. Assim encorajei aos meus filhos.
No final de dezembro comecei radioteapia, durante 2007, fiz a quimioterapia, e início de 2008, o transplante.
Alguns de meus tios maternos e meus filhos |
Lembro-me vagamente de meus irmãos chegando de Belo Horizonte, Mato Grosso, e até da China, onde morava Viramundo. Quando minhas amigas da faculdade vieram me visitar pela segunda vez, deram a notíciapara os professores, "ela já até passou um batonzinho", isso significava que meu ânimo estava melhorando.
Meus tios a quem não os encontrava há mais de vinte e cinco anos, vieram me visitar para uma última despedida, assim correu a notícia. Adorei encontrá-los, os irmãos de minha mãe; muitas vezes a doença permite estes resgates.... Estes dias passaram a me visitar outra vezes.
Em agosto de 2007, procurei o Máximo Ghirello, iniciando um tratamento com fitoterápicos, e a Melissa Oficcinalis foi o passe mágico para me trazer de volta, por até cinco horas de sono, devido a quimioterapia que me deixava elétrica.
Entusiamei-me com as plantas, pedindo-lhe um jardim de ervas em casa. Foi assim, que construímos este jardim editado no blog da família Ghirello.
19 de Maio de 2008, inauguração do jardim |
O meu empenho em restabelecer a minha saúde foi pautado em cada momento que vivia, em cada pensamento, varrendo todas as folhas secas que o vento do desânimo traziam aos meus sentimentos.
Participei na reunião de preces na casa de Seu Plínio Ghirello uma semana antes, sendo que a única queixa que os levava era a do cansaço, uma semana voltava em cadeira de rodas, com colete, para proteger a coluna. Eles pensaram que estava na cadeira por algum motivo mais simples, e que o colete era uma questão de moda. A Leni comentou com outra pessoa do grupo: "Dessa vez a Maria Helena exagerou um pouco".
Eu tinha um trato com a minha consciência quando comecei a freqüentar o grupo "eu posso perder prova, perder qualquer atividade, mas não pretendo deixar de comparecer neste grupo uma única vez.
Recebendo os convidados |
Se nunca faltei, agora mais do que nunca, tinha que freqüentá-lo e continuar orando, pedindo ajuda a Deus e à espiritualidade. Foi assim, com o meu esforço pessoal em manter o otimismo, com a ajuda da medicina, da minha família parentes e amigos, do grupo do seu Plínio físico e espiritual, e Deus acima de tudo, que hoje estou aqui relatando um pouquinho do que me aconteceu. E a minha vontade de viver em tão boas companhias levou-me a compartilhar através do meu jardim, com mais de quinhentas pessoas que vieram à minha casa participar das aulas com o professor e herborista Máximo Ghirello . Tenho muito a agradecer à esta querida e generosa família, a minha vida.
Seu Plínio e Dona Carlina |