Cora e a mulher brasileira
No seu livro Vintém de Cobre diz: este livro "vai à publicidade sem nenhuma pretensão", Alguma coisa, coisas que me entulhavam, me engasgavam e precisam sair". Coralina é uma existencialista humanista, uma mulher que viveu o que qualquer mulher do sertão ou da cidade vive hoje em dia. Seu diferencial era a sensibilidade e antecipação, qualidade de pensar escrevendo o seu pensamento em forma de prosa e verso. Especialmente neste livro, conta coisas que se passam principalmente com qualquer pessoa, fazendo uma colcha de retalhos de suas memórias. Ela diz "Meias Confissões de Aninha" é certo porque confissão pública de todas as vivências é impossível. Queremos o respeito alheio, não que nos desrespeitemos com a nossa vida e escolhas, mas a cada postagem estamos entrando na alma de outros, que também têm seu sistema de crenças, se não bater, vai de mal a pior. Moinho do Tempo. "Se apegava a santos distantes, cansados e enfastiados de tantos pedidos, ia à igreja, confessava e comungava, saindo confortada após a missa..." Quem não viveu isto um dia? Outros se apegam a Espíritos de luz que são como os Santos ou Anjos da Guarda. Recebeu apelido de ET, por incrível que pareça eu também já fui lembrada por amigas como tal. Meu Melhor Livro de Leitura. Usava a palavra sistemática e histórias da Caronchinha era seu melhor livro de leitura. Quem não se viu como Maria e Joãozinho perdidos na floresta, como nós atualmente, perdidos na floresta da vida, ou a Branca de Neve cuidando dos anõezinhos; sou o Zangado quando algo me irritou porque não prevaleceu minha vontade, ou o Feliz, porque deu tudo certo, então comemoro contente? Branca de Neve eu sou quando estou aberta para o Amor. Já quando sou injustiçada, renegada e excluída me vejo na Gata Borralheira. Como Aninha. Encontrei pela vida Brancas de Neve, e mais tarde Super Heróis, quem sabe Da Vinci foi um deles? Lógico que só na minha inexperiência acreditar neles, os substitutos do Príncipes Encantados.Os príncipes que viraram sapos, eu que de cinderela me transformei em gata borralheira. Até mesmo bruxa quem sabe. Ah! Diz ela "Minha volta ao mundo de kardec..." estou nessa fé. Fazenda Paraíso. As matriarcas da Fazenda Paraíso, estas encontrei na antiga Areias, um arraial do Triângulo Mineiro, minha avó Batista, tia Cecília, Dagmar e Elizena, na Fazenda São Mateus. Lá nos jardins encontrava giló, couve, rosas e cravos perfumados, hortelãs, cebolinhas, alfaces, ervas milagrosas de curar, filodendros e arbustos rajados (esqueci o nome). Os mandiocais, laranjeiras, mangueiras e tanto mais. Pai e Filho. Direito absoluto dos pais, melhor dizendo, do homem. Dá-se estes bens, para não dá-lo a uma esposa, mas tira-se do filho assim concluída a transação. Maioridade, a primeira providência é a devolução. E ai daquele (a) que passa os olhos no papel antes da assinatura, para simples conferência. Maldição de pai. Tradição, Família e Propriedade. Voltei. O dicionário, como Aninha foi meu avô, meu pai, meu libertador de dúvidas. Facilidade em responder a todas as perguntas que fizeram meus filhos sobre sinônimos disso ou daquilo. Até hoje ninguém fica sem resposta, o dicionário está aqui do lado em quarta edição, pois dois foram desfolhados de tanto carregar para cima e para baixo. Costume aprendido por todos. Premunições de Aninha. Acreditar no progresso, na tendência econômica, para onde o Rio do dinheiro vai correr. Condado explodiu em valorização. Alguns metros de terra por aqui hoje valem muito, quem acreditou comprou e preservou. Quem não fez dançou. Quem acreditou nos loteamentos de condomínios ganhou muito dinheiro. Confissões Partidas. "As armadilhas por mim criadas, Reservas profundas, meus reservatórias secretos, complexos, fechados, ermos, compromissos íntimos (...) Algemas mentais, e tolhida, prisioneira, incapaz de despedaçar a rede onde se debate o escamado da verdade..." Assim sou eu, com muitas verdades não ditas, sofridas, rasgando a minha saúde, encurtando o meu tempo de vida. Passo muitas vezes de cega, surda e muda. Muitas vezes tem me ajudado, mas vou agindo sempre e conseguindo muitas vitórias. No confrontamento sempre perco a disputa. Há quem pense que vivo numa linha divisória, talvez seja mesmo verdade, sei que apenas eu posso dar solução aos meus ais. Exaltação de Aninha (A universidade). Tive eu mesma a felicidade de freqüentá-la e proporcioná-la aos meus filhos. Mas Aninha tinha o universitário como fiel depositário de valores ancestrais vindo de Paris e Coimbra, como projetores da ciência do futuro. Hoje sabe-se que alguns jovens entram na faculdade de química para criar novas alquimias das drogas visando apenas o faturamento. O respeito à casa de ensino, ginásios, faculdades e cursos, será que podia prever o desrespeito com os professores, mesmo colegas e ao próprio patrimônio cultural? Como capacidade de criação, romper a crosta, criando algo novo, deixou um aviso, que ao universitário cumpria o "papel de semeador, sem contar com os júbilos da colheita". Conheço um que segue seu conselho: Máximo Ghirello. É um herborista, pesquisador, trazendo o conhecimento da cura pelas plantas, através da antropologia da medicina. Como a doença se instala e como o indivíduo busca a cura. É uma nova abordagem, vinda do oriente para ocidente, conhecimento milenar, pouco conhecido numa estrutura alopática medicamentosa, cristalizada na cátedra. Professor , "feliz daquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina (...) o melhor professor nem sempre é o de mais saber, é sim aquele que, modesto, tem a faculdade de transferir e manter o respeito e a disciplina da classe". Fui professora, dei aula por três anos. Não fui boa professora. Fui boazinha.
Este livro de Aninha segue o estilo dos blogs, por isso me pergunto, era ela uma blogueira ? O estilo de escrever falando do cotidiano revela uma faceta contemporânea, da era virtual.