Toda mocinha em mil nocentos e sessenta e oito gostava do livro o "Pequeno Príncipe". Eu lia e relia, tentando apreender o significado profundo. Na verdade eu entrava no livro e viajava pelos planetas com ele. Na verdade eu queria fazer parte de outro mundo, um mundo que se pudesse criar laços verdadeiros e profundos, pois a minha vida vinha me impedindo de amizades duradouras. Neste livro parecia encontrar a solução para as ausências definitivas que me aconteciam. Mudanças da menina para mulher. Mudanças de cidades e colégios. Mudanças de amigos que partiam para nunca mais encontrar. Mudanças de referências. Fui aprendendo a viver de lembranças que se tornavam essências e essenciais. Passei a guardá-las na memória do coração. Foi assim que passados nove anos fui ao encontro da Verinha Martins em Uberlândia. Certa vez ela deu-me seu endereço para correspondência de férias. Na esperança de revê-la, fui ao tal endereço, encontrando-a. Mas ela não deu a mesma importância que eu à nossa amizade. Esta experiência mostrou-me que cada um de nós tem uma percepção diferente da mesma situação. Assim ocorreu com outras amizades, fatos e muito mais.
Para ilustrar os meus sentimentos em relação às pessoas,
transcrevo então um trecho do Pequeno Príncipe (Antoine de Saint Exupéry) que adorava e ainda aprecio,pois ainda é a minha maneira de me relacionar com a vida.
"A raposa olhou o Pequeno Príncipe por um longo tempo.
"Por favor, cative meu coração" -disse-.
Cativar é "criar laços". Se você me cativar, minha vida vai se encher de sol.
Conhecerei um barulho de passos que será diferente de todos os outros. Os outros passos fazem com que eu me esconda debaixo da terra. O seu me chamará para fora da toca, como uma música. Olhe, você está vendo, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão, para mim o trigo é inútil. Os campos de trigo não me lembram nada. Mas você tem os cabelos cor de ouro. Quando você tiver me cativado, o trigo dourado será uma lembrança sua. E amarei o som do vento no trigo..."