Batuque da Chuva
Apaga a Fogueira,
A água desce pela guela,
Queima a garganta,
Água e fogo dançam e cantam,
em dueto afinado.
Pingos fortes e grossos caem sobre o telhado,
mas o som vem das calhas de alumínio. Saio lá fora e tiro algumas fotos para
registrar o evento. É interessante por que no momento visualizava a fogueira da
inquisição queimando livros, me queimando, pura fantasia de gente louca. É que
sou um tantinho exagerada quando busco as origens de meus medos em decorrência das postagens que faço. Quero
escrever falando o que estou pensando, antecipando alguma punição que possa
receber. Desde sempre tenho o costume de escrever e esconder os textos da minha
família; eles gostam muitas vezes, até me elogiam, mas tem coisas que digo e
são críticas endereçadas a eles também. Toda família tem hábitos que não são
adequados para a saúde física e saúde da alma. Digo alto e em bom tom, isso
trará prejuízo para você e para todos nós. Mas não adianta, e a água desce,
contaminando as entranhas físicas. Antes fosse esse aguaceiro que vejo caindo,
logo parando, parecendo que a natureza está sorvendo um gole, descendo guela
abaixo. Mas não queima como o elemento fogo vai torrando a carne que vejo nas
figuras, e nem transformando em cinzas, os livros que também vejo sendo
queimados. Não sou Joana D’Arc a Santa salvadora da França, nem salvadora de
mim mesma, nem dos meus familiares, longe de tanta pretensão.
Só tento
transformar em imagens meus sentimentos mais profundos. A água e o fogo podem
dançar na linguagem, fazer duetos afinados, batucadas pois é o que ouço de onde
estou centrada. Está lindo, em vez de fotos se tivesse filmado teria alcançado
melhor resultado.